Muitas, vezes, quando o homem sente que, de alguma forma, a vida tem mais a oferecer do que o que ele experimenta, ele afasta esses pensamentos e adota uma filosofia de vida cética e resignada. Mas vocês, meus amigos, que estão aqui, fatalmente sentem, de alguma forma, que podem extrair mais da vida do que fazem. Portanto eu lhes digo, o primeiro passo é investigar por que vocês dizem não. Quando mais tensa, mais compulsiva, mais premente, mais impaciente for o esforço exterior pela realização, tanto mais certos
vocês podem ficar que, por trás disso, existe um não tão rígido quando o sim urgente da superfície.
Quando existe um impulso doloroso, ansioso, ele só se distende quando
vocês constatam o seu não específico, pessoal, àquilo que mais desejam.
Preciso voltar mais uma vez à dificuldade da personalidade que ainda ignora sua própria
negação de seus desejos. Falei anteriormente da impotência. Falei dos atritos e restrições quando a culpa pela carência é projetada nas circunstâncias exteriores ou em outras pessoas, nos profundos emaranhados e confusões que isso cria. Agora quero enfatizar especialmente a dependência que isso gera.
Se vocês ignorarem suas obstruções interiores e acreditarem que os outros ou o destino são a causa, não poderão escapar do estado de tensão e medo com relação aos outros e à vida.
Isso suscita uma série de perturbações e distorções, tão numerosas que é impossível investigá-las agora. Se vocês concatenarem isso com praticamente tudo que eu já disse sobre problemas e situações do homem e a dinâmica da alma, vão ver que o fator determinante é a consciência das próprias obstruções. Vocês entenderão o verdadeiro significado da responsabilidade por si mesmo.
Vamos procurar lançar um pouco mais de luz sobre essa importantíssima pergunta: por que o homem diz esse misterioso não à satisfação de seus mais profundos desejos, ao anseio pelo mais intenso contentamento imaginável? O que faz a felicidade aparentemente perigosa ou indesejável?
Vamos dizer que uma pessoa é egoísta, ou tem um traço de crueldade, ou sente ódio.
Se ela fingir que o egoísmo é uma versão sadia da auto-afirmação ou se o racionalizar, se sentir apenas em segredo a crueldade e o ódio, manifestando-os indiretamente sob uma fachada que indica o oposto, essa pessoa, além de cometer essas violações, torna-se também hipócrita.
Talvez a hipocrisia não seja flagrante, não apareça na superfície, mas a sutileza não altera sua essência. Se, por outro lado, a pessoa admite para si mesma, com coragem e honestidade, o que se passa em seu íntimo, e encara os fatos como são, a violação já foi superada em medida considerável. Pois, ao aceitar a verdade sobre si mesma, ela entra num clima geral de verdade. Ela está numa plataforma onde existe a possibilidade de deixar de cometer aquela violação específica.
Mas mesmo enquanto ela luta, procura entender mais e melhor, é preciso meditar para obter orientação e ajuda, para que os sentimentos mudem espontaneamente. A pessoa que age assim está de acordo com as leis universais. Ela aceita seu estado atual e cria condições
interiores compatíveis com o contentamento. Se ela é honesta a ponto de dizer “não consigo evitar esse sentimento, embora saiba que não gosto dele e que ele é destrutivo”, nesse momento, além de ser verdadeira, ela dá espaço para a mudança.
Qualquer coisa que seja contrária às leis do amor e da verdade deixam o organismo
despreparado para agüentar a poderosa energia da felicidade. Pois a felicidade é, efetivamente, uma poderosa energia. Ela exige mais força do que a infelicidade. Essa força pode ser conseguida por todos os que encaram a verdade e se desvencilham das ilusões sobre o eu e a vida.
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